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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

“As igrejas mais maduras que conheço são igrejas perseguidas”, diz Mário Freitas



Líder da Missão Mais fala sobre Igreja Sofredora, conversão e chamado cristão

Mário
Foto: Arquivo Pessoal

Com frequência, surgem notícias sobre guerras, conflitos, atentados, ações de extremistas contra grupos religiosos, além de catástrofes naturais, acidentes, enfim, acontecimentos diversos ao redor do mundo. Quais as consequências disso para a Igreja Cristã? Como os cristãos têm reagido diante de tantas tragédias?

O Lagoinha.com conversou com o pastor Mário Freitas, da Missão em Apoio à Igreja Sofredora (MAIS), que falou sobre a situação da Síria e do Iraque no âmbito cristão, a Igreja Perseguida, a conversão de muçulmanos ao cristianismo, a relação cristãos perseguidos x volta de Jesus e a reação da Igreja diante das tragédias no mundo, além do papel do todo cristão.

Confira entrevista:

A perseguição influencia o crescimento da Igreja Cristã?

Foto: Internet
Foto: Internet

“Por um lado, em geral, perseguição gera fortalecimento da Igreja, gera conversão. As igrejas mais maduras que eu conheço são igrejas perseguidas. Tem países que posso te afirmar, mesmo sem ter informações de lá todos os dias por serem países tão fechados, com pouca comunicação, que a Igreja tem feito seu trabalho, tem crescido, Deus tem se revelado de maneiras sobrenaturais. Pessoas têm se convertido. É o caso da Coreia do Norte, da Arábia Saudita, do Irã, de onde temos recebido narrativas constantes de conversão. Está acontecendo algo fabuloso.

Agora, esses países não estão em guerra. Não é todo mundo que consegue entender a diferença entre perseguição religiosa e guerra. No caso da Síria, por exemplo, a Igreja não tem crescido porque as pessoas estão fugindo de lá. Diria que sírios estão se convertendo, porque tem pessoas que eu vejo se converterem no Brasil ao virem para cá como refugiadas. Mas a Igreja não está crescendo na Síria, para nossa tristeza. Dos 21 milhões de sírios que havia lá, oito milhões já saíram. Não é uma saída por conta da perseguição, mas em decorrência da guerra. Algumas cidades estão inviáveis. A gente tem imagens aéreas de drones.

Não há como habitar lá.

Enquanto era só perseguição, essas igrejas cresciam. Aí a gente entra em um outro problema que é o fenômeno migratório que o mundo está vivendo. A Igreja é afetada nesses locais. A Igreja do Iraque e a da Síria, enquanto elas eram perseguidas, eu podia dizer: “Vamos fortalecer esses irmãos para que eles fiquem lá”. Mas eles não estão sendo perseguidos, estão debaixo de guerra, que não só os afeta, mas até os muçulmanos. Tanto que eles também têm fugido e, muitas vezes, pedido ajuda em nossas bases fora do Brasil.


Muçulmanos têm se convertido ao verem perseguição a cristãos?
Foto: Internet
Foto: Internet

Sim. Isso tem acontecido. Temos relatos, por exemplo, de um guarda de prisioneiros do Estado Islâmico que teria se convertido ao ver as pessoas sendo torturadas e não negarem sua fé. O que está acontecendo no Irã é esse fenômeno. Jovens têm se convertido decepcionados com o islã. “Como a nossa fé pode promover essa matança?”, eles questionam. Então, tem sido um momento em que Deus tem usado até isso”.

Como você relaciona a perseguição à Igreja com a volta de Jesus?

Foto: Internet
Foto: Internet

“Eu relaciono muito. Não sou um especialista em escatologia, mas não tem como você ler Daniel 7, por exemplo, e não fazer concepções. Mas, independentemente de interpretações, a Bíblia diz que os últimos dias seriam extremamente maus, e acho que a gente está muito perto do ápice da maldade humana. Com crianças de 12 anos sendo crucificadas porque são de famílias cristãs, meninas sendo vendidas a 100 libras esterlinas como escravas sexuais, tráfico humano em um nível que nunca aconteceu antes na história da humanidade. Acho que Jesus está voltando, sim, e a Igreja precisa saber muito bem como se posicionar e servi-Lo neste momento”.

Qual é a reação da Igreja diante das notícias de tragédias na mídia?

Foto: Internet
Foto: Internet

“Infelizmente, a Igreja brasileira, talvez toda a Igreja ocidental, é movida por impactos midiáticos. Aconteceu um terremoto. Naquele momento as pessoas se engajam, se for de uma proporção chocante. Aconteceu uma decapitação de 21 cristãos na praia. Todo mundo se engaja. Apareceu o corpo de uma criancinha boiando na costa da Turquia. Está todo mundo preocupado com crise migratória. Mas a constância disso precisava de uma percepção teológica, que envolve desde a volta de Jesus até a nossa eclesiologia, o que a gente nasceu para ser como Igreja. Porque as nossas convicções teológicas são muito “ensimesmadas”, são muito de reparação, de restauração de elementos pessoais, de buscar aquilo que foi perdido na própria vida.

Então, não acredito que a Igreja está efetivamente tocada. Quando ela se toca, é por identificação, o que é comum. Olhei o corpo daquela criancinha. Tenho um filho de dois anos que dorme daquele jeito. Então, você se identifica com aquilo. A gente não está muito identificado com o problema porque ele ainda é pequeno para nós, está distante. Acho que à medida que o Brasil for islamizado, que o filho do cristão começar a chegar em casa com uma versão jovem do alcorão que ele ganhou na escola de outro menino, talvez a sociedade cristã comece a se preocupar um pouco mais. Então, enquanto não houver identificação, muito coisa não vai tocar tanto a Igreja”.

O que é preciso para cumprir o “ide”?

Foto: Internet
Foto: Internet

“Acredito que uma das coisas que a gente precisa pensar é que todo cristão tem um chamado, não existe um crente sem chamado. Posso não ter todas as informações sobre o meu chamado, mas eu tenho um. Se a gente ver somente alguns como chamados, nosso papel será passivo, no máximo, uma contribuição. Quando lembrar, uma intercessão. Agora, se eu me ver como chamado, mesmo que eu não possa ir, estou envolvido no que Deus está fazendo na história.

O meu convite, o meu desafio, seria que cada um pedisse a Deus essa confirmação vocacional, se entendesse com chamado. Como a Escritura diz: “Ele nos reconciliou consigo mesmo e nos fez ministros da reconciliação” (2 Coríntios 5.18). Isso foi no mesmo dia, no mesmo ato. Ou seja, no dia em que fui salvo, me foi dada a responsabilidade de salvar. Então, esse conceito precisa ser restaurado na Igreja”.

Sobre a Missão Mais

Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal

O principal objetivo da Missão Mais é fortalecer os cristãos da Igreja Sofredora. “Como Igreja Sofredora a gente não entende somente a Igreja Perseguida, mas também a Igreja pós-catástrofe”, explica Mário Freitas. Esse apoio é espiritual, pastoral, mas ele é muito físico também. Tem muito a ver com programas de desenvolvimento humanitário”. Ou seja, o intuito é “não ver só as necessidades espirituais do Corpo de Cristo, mas também necessidades físicas”.

Hoje, a Missão Mais tem bases em dez localidades diferentes no mundo, sendo que cada uma delas pode ter projetos em mais de um país, portanto, a atuação tem sido em, aproximadamente, 16 nações. No Haiti, por exemplo, o trabalho é realizado desde o terremoto em 2010. “É um projeto que a gente julga como bem-sucedido, no sentido de que hoje a nossa equipe toda é haitiana. Não temos missionários brasileiros lá. Esse é o objetivo para todos os outros lugares”, explica Mário. A missão também tem base em Uganda, Oriente Médio, Ásia Central, Tailândia, Colômbia, Guiné-Bissau, Itália e no sertão do Brasil, além de Vitória (ES). “A gente está no processo de abrir uma nova base, na Turquia”, diz.

Desde novembro de 2013, o projeto já recebeu mais de 200 refugiados. Aproximadamente 90% deles são sírios. “Tem poucas exceções, mas quase todo mundo é da Síria”, diz Mário. Na chegada ao Brasil, eles são abrigados na base missionária, onde permanecem de 40 a 60 dias, são cuidados, documentados e enviados para igrejas com as quais a Missão Mais tem parceria, como a Igreja Batista da Lagoinha.

:: Dayane Nascimento

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