Durante minha adolescência muitas coisas marcaram minha vida. Foram esses acontecimentos que definiram o modo como expresso minha fé. A segunda-feira na escola era um momento tenso para mim. É impressionante como o dia mais preguiçoso da semana é, surpreendentemente, o mais exibicionista. No colégio todo mundo tinha casos de fim de semana, cheios de adrenalina, para contar. Todos, menos eu.
Era uma cena cômica, repetida todo início de semana. Meus amigos escolares e eu nos reuníamos no recreio e todos começavam a contar as aventuras vividas durante o fim de semana. Eram, de fato, casos e causos que fugiam do cotidiano previsível. Eu achava impressionante como aquele bando de jovens com tendências contraculturais tinham histórias para compartilhar.
Claro que contavam experiências recheadas de aventuras sexuais, uso de alucinógenos, transgressão a leis e toda sorte de imoralidade, leviandade, iniquidades e borrachices. Todos sabiam que eu era cristão, muitos até respeitavam, mas mesmo assim é difícil expressar meu constrangimento por não ter histórias para contar. Procurava alguma coisa para falar e lembrava que no sábado eu tinha ido ao culto de jovens da igreja, no domingo tinha ido à igreja de manhã, na casa da vovó à tarde e na igreja à noite. Ah, mas que decepção com meu previsível fim de semana de crente! Que insatisfação com minha vida de “crente-coxinha”! Será que era por causa disso que às vezes eu ouvia um “Ah, vai se F*%$#!” quando convidava meus colegas para irem às programações da igreja?
Graças a Deus, eu não me transformei em um “desigrejado” frustrado, pois o Espírito, além de purificar minha vivência cristã, dando-me experiências únicas, me ofereceu uma grande inspiração: o apóstolo Paulo. Poderia ter sido outro personagem bíblico, mas Deus quis que fosse ele. Um dia refletindo sobre o livro de Atos, imaginei a seguinte cena: Paulo chegando numa feira de comerciantes e trocando causos com aquele povo.
O apóstolo dos gentios contaria suas histórias de: cegueira e conversão, viagens por boa parte do mundo conhecido, sobrevivência a naufrágio, imunidade (“wolwerinica”) a picadas de pseudocobra, lidar com helênicos malucos que achavam que ele era Deus, receber tanta porrada a ponto de ser dado por morto. Com toda certeza do mundo, ninguém poderia acusar Paulo de ter uma vida entediante. A essa compreensão foram somadas as fortes experiências missionárias que vivi na Caverna de Adulão e a inspiração na vida de pessoas com quem passei a caminhar junto. Logo as coisas mudaram para mim. Com o passar do tempo eram esses mesmos colegas que paravam do meu lado muito curiosos para ouvir causos de uma vida que só existe quando guiada pelo Espírito.
Fato é que, geralmente, eliminamos toda noção de adrenalina de nossa vivência cristã no dia a dia. Até a dimensão da perseguição ao cristão (Mt 5.10 a 12) é abafada e seguimos preferindo criar cursos para “liderança-almofadinha”. Não estou defendendo que devemos seguir nossos impulsos joviais e nos esquecer da perseverança quando nossos dias ficam difíceis e previsíveis. Entretanto, tenho certeza de que a vida com uma missão sempre será objeto de admiração, em meio a uma geração oca que não tem sentido em seu viver.
Mas como viveremos tudo isso? Tudo acontecerá naturalmente quando entendermos e vivermos a natureza da missão e do reino de Cristo. A ousadia para evangelizar, a disponibilidade para servir, a bondade da hospitalidade, a fome e sede de justiça social de mãos dadas com a doçura do amor; viver tudo isso em um sistema egoísta, humanista, materialista e antiDeus será, com certeza, a maior das aventuras. Portanto, arregacemos as mangas e nos deixemos encher pelo Espírito a fim de manifestar o doce aroma de Cristo, que subverte a lógica dos nossos dias.
Fotos: Internet
 Pr Philippe