lendo-a-bibliaEra uma vez uma garotinha muito boa, obediente, gentil e amável, que todos os dias antes de dormir esperava seu pai chegar do trabalho, e dar-lhe um beijo de boa noite, na testa. Às vezes, quando ele não chegava muito tarde, contava-lhe histórias de todos os tipos, sobre uma grande mulher que revolucionava,  para o bem, os lugares por onde passava. O pai, por sua vez, depois de cada história, anotava em um pequeno bloco de papel, e sempre dizia à sua pequena garotinha: “Um dia você entenderá tudo isto”. Ela sorria, pois realmente não entendia, para ela eram apenas histórias.
O tempo passou e a garotinha cresceu. Já não esperava por seu pai para contar-lhe histórias e ele já não tinha disposição para contá-las. Ele estava muito doente e, agora, esperava que a filha viesse dar-lhe um beijo de boa noite, mas ela não vinha. Ela trabalhava muito e havia se tornado uma jovem adulta gananciosa e de alegria rasa. O velhinho esperava por sua filha, mesmo sabendo que ela não viria, com uma fagulha de esperança nos olhos e com seu pequeno bloquinho de papel nas mãos. Ela, porém, perdida em sua vontade de construir e solidificar sua vida em luxo e caprichos, esqueceu-se completamente do pai e sobre o que ele tentou lhe ensinar durante anos.
Em uma madrugada fria, quando os cachorros vira-latas choramingavam pelos cantos, o velhinho passou muito mal. Sua filha, exausta depois de um dia de trabalho árduo, o levou ao hospital, murmurando agouros e reclamações sobre a velhice, a doença e o tempo, que estava cada vez mais curto. O pai tossia muito e mal podia respirar, porém não vacilava em segurar o doce bloquinho de papel, apertando-o contra seu peito dolorido.
Ao chegar no hospital, a filha descobriu que ali não havia mais vagas, e o máximo que poderia ser disponibilizado era uma máscara de oxigênio, para que seu pai respirasse melhor. Assim foi feito, e ela diante disso reclamava ainda mais.
Seu pai segurou a sua mão levemente, sorriu e com bastante dificuldade disse: “Um dia você entenderá tudo isso”. Revoltada com o pai e com a situação, a filha gritou: “Porque você não para de dizer isso? Nada faz sentido!”. O seu pai apertou sua mão como gesto de apoio. Ele já não conseguia falar, estava perdendo as forças aos poucos. Então ela se sentou. Ele se moveu lentamente, até que conseguiu dar à filha um beijo de boa noite. Um boa noite eterno. Em menos de um minuto depois estava morto.
Passaram-se horas, e o pai daquela velha garotinha estava sendo enterrado. Com esta morte um sentimento terrível nasceu nela: remorso. Deveria ter feito mais? Quantas noites havia desperdiçado trabalhando? Quantas vezes havia ignorado seu pai e pensado em colocá-lo em um asilo… Tudo isso a deixava revoltada e deprimida. Ela não conseguia se perdoar.
Depois do enterro ela voltou para casa. Carregava em suas mãos aquele bloco de papel que seu pai não deixara nem na hora da morte. Espantando todo seu medo e culpa, ela havia decidido lê-lo. Talvez isso poderia redimi-la de alguma forma. Talvez seu pai tivesse isso como seu último desejo. Então abriu o bloco.
“Querida Margareth,
Você se lembra das nossas histórias? Eu as inventei. Anotei todas elas, noite por noite, para que um dia nos lembrássemos. Mesmo quando você parou de vir me ver à noite, eu continuei a escrever. Este, na verdade, creio que seja o último exemplar de muitos cadernos que estão guardados.
Queria dizer a você, minha garotinha, que mesmo que estas histórias sejam inventadas, elas podem se tornar reais. Eu escrevi uma realidade que gostaria que fosse vivida por você! Todas as histórias são sonhos que poderiam ser vividos, com certeza. Eram mais que sonhos, eram planos. Ah, querida! Como eu gostaria que você tivesse tempo de me visitar, para que eu lhe mostrasse o conteúdo destes cadernos.
Tudo bem, você não deixa de ser minha garotinha por isso. Você é especial, preciso que entenda isso. Nada muda meu olhar. Só gostaria que você não se importasse com coisas tão pequenas e entendesse que a resposta está bem na sua frente. A felicidade que tinha nos seus olhos, já não vejo mais! Ah, querida. Leia os bloquinhos. Tracei um plano, ainda dá tempo de ser feliz, de ser completa, de ser plena. Há tempo para de ser corajosa!
Minha garotinha, minha filhinha… Talvez você não faça nada do que está aqui escrito, mas saiba que você tem a opção de ser uma mulher melhor, assim como sonhamos. Não uma mulher perfeita, mas uma mulher de caráter. Leia todos os cadernos filha, leia.
Eu te amo muito, mesmo que você nunca me escute.
Sonhe e realize!
João”
Ao terminar de ler isso, Margareth não se conteve em lágrimas. Seu pai a amou, mesmo sendo desprezado. Ele a amou, mesmo quando maltratado. Ele traçou um plano para ela. Queria o seu bem sempre! Então, ela realmente entendeu e tornou-se de novo aquela garotinha.
Que Deus te Abençoe!!!
Um Forte Abraço 
Até uma próxima oportunidade !!!

Pastor e Teólogo

 Arlei Terra

Fotos: Internet