Como a besta deste contexto
é uma figura para fazer referencia a um rei, o livro que consta do mesmo verso
também é uma figura, visto que é improvável que Deus possua ou necessite de um
livro para conferir de nomes. Deus não precisa de livros ou de caneta para
anotar informações.
A supressão da figura do proprietário do livro da vida no capítulo
17 do Livro do Apocalipse foi suficiente para que algumas pessoas se
utilizassem do texto para introduzirem encobertamente a sua doutrina,
enfatizando que, ‘desde a fundação do mundo’ há um livro que contém registrado
o nome dos salvos, sugerindo a doutrina calvinista da eleição e predestinação.
“... cujos nomes não estão escritos no livro da
vida, desde a fundação do mundo” ( Ap 17:8 )
Introdução
Aabordagem de
Apocalipse 17, verso 8 não se centra em um livro, antes na figura do Cordeiro
de Deus. Cristo, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo é o tema central
do verso ( Jo 1:29 ; Ap 21:27 ).
A leitura do verso 8 do capítulo 17 de Apocalipse é
simples: Ora, a bíblia só faz referência a um livro da vida, e este livro, por
sua vez, pertence ao Cordeiro de Deus. É o ‘Cordeiro de Deus’ que foi morto
desde a fundação do mundo, e não o ‘livro da vida’ que foi escrito desde a
fundação do mundo.
Quando lemos: “...
cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo” ( Ap 17:8 ),
basta incluir no versículo a figura do proprietário do livro para desfazer a
confusão que produz muitas interpretações equivocadas e falaciosas: o livro da
vida do (pertence ao) Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.
Observe: “...
cujos nomes não estão escritos no livro da vida (do cordeiro que foi morto),
desde a fundação do mundo” ( Ap 17:8 ). Este verso faz a mesma abordagem do verso 8 do capítulo
13: “E
adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão
escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo”.
Na língua grega, aquilo que é evidente no texto,
ou o que já foi abordado anteriormente, ou, o que é facilmente subtendido, por
uma questão de estilo de redação, geralmente é suprimido. No verso 8 do
capítulo 17 houve uma supressão da figura do proprietário do livro (cordeiro),
o que é facilmente deduzido, pois o livro pertence ao cordeiro "E não
entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só
os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro" (
Ap 21:27 ).
Mas, a supressão da figura
do proprietário do livro foi suficiente para que algumas pessoas se utilizassem
do texto para introduzirem encobertamente a sua doutrina, enfatizando que,
‘desde a fundação do mundo’ há um livro que contém registrado o nome dos
salvos, sugerindo a doutrina calvinista da eleição e predestinação.
Através desta passagem bíblica, há quem procure
dar sustentação à doutrina calvinista da predestinação e eleição sob o
argumento de que Deus registrou os nomes dos salvos em um livro ‘desde a
fundação do mundo’, determinando quem são os salvos, mas se esquecem de
considerar que o próprio Deus assevera que apagará o nome daqueles que pecarem,
apesar de já estarem inscritos no seu livro, o que depõe contra tal concepção
doutrinária fatalista, determinista e mecanicista "Então
disse o SENHOR a Moisés: Aquele que pecar contra mim, a este riscarei do meu livro" (
Êx 32:33 ).
Aplicando
princípios de interpretação
A primeira questão a se
considerar ao interpretar Apocalipse 17 verso 8 é que se está analisando
figuras. No aprendizado de uma nova matéria, a cognição do homem se dá por
associação e acomodação, de modo que, Deus, ao transmitir uma ideia espiritual
- que é completamente nova para o homem - utiliza figuradamente coisas
pertinentes a este mundo dos para apresentar.
Ao observar o versículo 8
do capítulo 17 de Apocalipse, verifica-se que ele faz referência à ‘besta’, uma
figura que representa o oitavo rei que pertence ao conjunto de sete reis e que
vai a perdição ( Ap 17:11 ), de modo que a figura apresentada é para trazer à
compreensão um mistério ( Ap 17:7 ).
Deus é onisciente, ou seja,
todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos d’Ele. Todas as coisas Ele
conhece igualmente bem, quer seja no passado, no presente ou no futuro, tanto
as que consideramos simples quanto as que consideramos complexas.
Ora, a visão de um livro
remete o vidente à ideia de que todas as coisas são conhecidas por Deus, de
modo que é impossível aos homens, ou a qualquer outro ser criado escapar da
percepção dos ‘olhos’ de Deus.
Na bíblia não há em outras
passagens bíblicas que faça referencia a um livro redigido antes da fundação do
mundo. O que encontramos é referencias a Cristo, apresentado como o cordeiro de
Deus, e que ele foi morto desde a fundação do mundo ( Ap 13:8 ).
As verdades bíblicas
permeiam e ecoam por todas as Escrituras, de modo que as verdades bíblicas são
repetidas de diversas maneiras em seus vários livros. Ora. Não há em outros
livros qualquer alusão a um livro escrito na fundação do mundo, mas com relação
ao Cordeiro foi anunciado por Moisés (Lei), pelos profetas, confirmado pelos
apóstolos que Ele foi morto desde a fundação do mundo.
Embora a bíblia faça menção
de um livro como figura, não há menção de um tempo ou de uma época em que tenha
sido escrito, antes a referência é quanto à natureza do livro: livro da vida.
Para analisar o verso 8 de
Apocalipse 17, o interprete tem que evitar certas ‘armadilhas’ na construção de
um argumento dedutivo para não compor uma falácia.
Quando da análise de uma
frase é imprescindível considerar:
a) denotação: sentido real,
literal da frase, ou o estado de coisas que a frase afirma ser o caso;
b) conotação: a associação
subjetiva, cultural e/ou emocional, que está para além do significado estrito
ou literal de uma palavra, frase ou conceito, ou seja, diz dos sentimentos,
ideias ou emoções provocadas pela frase no auditor, e;
c) ênfase: refere-se ao
grau de importância que o autor atribui aos diferentes elementos constitutivos
da frase.
Ora, se o interprete
desloca o grau de importância que o autor atribuiu a um elemento da frase, no
caso em comento o cordeiro, para outro elemento constitutivo da frase que o
interprete quer estabelecer, produzirá uma falácia.
Quando lemos: "A
besta que viste era e já não é, e subirá do abismo, e irá à sua destruição. Os
que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos no livro da vida desde a
fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá",
duas figuras se destacam: a besta e o livro.
Apesar do verso 8 apontar
estas duas figuras, vale destacar que o tema central do livro do Apocalipse é o
Cordeiro de Deus, Jesus Cristo-homem. A besta possui no texto uma importância
relativa que contrasta com a importância maior, a do Cordeiro, por se opor a
Ele ( Ap 17:14 ).
Se não fosse a figura
central do Cordeiro, não haveria a necessidade de se fazer referencia a besta.
De igual modo, se não fosse o Cordeiro de Deus, a quem pertence o livro da
vida, não haveria razão de se fazer menção do livro.
O que o verso apresenta:
·
Um estado de coisas que o versículo afirma ser o
caso – o versículo afirma tão somente que o livro da vida pertence ao Cordeiro
– denotação. Qualquer suposição que vá além desta ideia é espúria;
·
Os sentimentos, ideias ou emoções provocadas
pelo versículo – somente informa que os que não fazem parte do livro do
Cordeiro são os que se admirarão ao verem a besta – conotação. Qualquer
suposição que vá além deste núcleo de informação é espúria, e;
·
A importância que o autor atribui aos diferentes
elementos da frase - o evangelista João enfatiza o Cordeiro de Deus, e não da
besta ou do livro, que dirá do tempo em que o livro foi escrito – ênfase.
Após as figuras e a ênfase,
há um terceiro ponto a se destacar quando da interpretação deste versículo: na
língua grega, aquilo que é evidente, ou o que já foi abordado no texto, o que é
facilmente subtendido, por uma questão de estilo de redação, geralmente é
suprimido.
A leitura do verso 8 do
capítulo 17 de Apocalipse é simples, pois basta incluir no versículo a figura
do proprietário do livro – o cordeiro de Deus - para desfazer a confusão que
produz muitas interpretações equivocadas e as falácias.
Ora, a bíblia faz
referencia a um único livro da vida, e este livro, por sua vez, pertence ao
Cordeiro de Deus, de modo que o que ocorreu desde a fundação do mundo foi a
morte do proprietário do livro, e não a escrita dos nomes no livro.
Quando lemos: “...
cujos nomes não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo” (
Ap 17:8 ), temos que considerar que, as pessoas que habitam sobre a terra e que
se admirarão vendo a besta são aquelas que não possuem o nome no livro da vida
que pertence ao Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.
O evangelista estava
destacando as mesmas coisas abordadas anteriormente:
a) que os que habitam sobre
a terra se admirarão vendo a besta;
b) que os que admiram a
besta não estão inscrito no livro da vida, e;
c) que o livro da vida pertence ao Cordeiro
morto desde a fundação do mundo “E
adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão
escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo” (
Ap 13:8 ).
Enquanto o vidente estava
demonstrando que os que não estão escritos no Livro do Cordeiro que foi morto
desde a fundação do mundo se admirarão ao ver a besta, há quem considere que é
o livro da vida que foi escrito desde a fundação do mundo.
Como um falácia
é construída
Após ler o verso 8 do capítulo 17 do Livro das
Revelações, que diz: “cujos nomes
não estão escritos no livro da vida, desde a fundação do mundo” (
Ap 17:8 ), o Sr. Clóvis Gonçalves concluiu no artigo intitulado ‘Quando o livro
da vida foi escrito?’ disponível na web, que “a
expressão desde a fundação do mundo não significa ‘começando lá e continuando
até o último convertido’. Mas se refere a algo que estava concluindo quando
Deus lançou os fundamentos da terra, antes de criar o primeiro homem”Gonçalves,
Clovis, Quando o Livro da vida foi escrito?, Artigo disponível na web.
Através deste artigo do Sr.
Clóvis, demonstraremos como é pernicioso, alguém, com uma opinião formada, se
achegar ao texto bíblico somente para afirmá-la. É um empenho sem valor ler e
analisar um texto bíblico na língua grega somente com foco na gramatica, sem
que o estudioso esteja disposto a abrir mão dos seus conceitos para absorver a
ideia que o texto transmite.
Quando inicia a análise do versículo, o autor,
de pronto estabeleceu que só existem duas possibilidades de se interpretar a
passagem bíblica: “Há duas
possibilidades aqui, interpretar a expressão como significando que os nomes de
todos os salvos estavam registrados no Livro da Vida desde a fundação do mundo
ou que o nome de cada pessoa é escrito quando o evangelista ora pelo decidido,
pedindo a Deus que escreva o seu nome no livro da vida” Idem.
Por que ele vê somente
estas duas possibilidades? Porque a visão dele é de que a doutrina calvinista e
arminianista encerram qualquer discussão sobre o tema. Vale salientar que o
autor do artigo citado é calvinista.
O Sr. Clovis inicia a sua
argumentação, em prol do seu ponto de vista, dizendo que é significativo o fato
do verso em comento abordar a questão dos que não tiveram os seus nomes
registrados no livro da vida, contrastando com aqueles que possuem esse
privilégio.
Em seguida, fez uma análise
gramatical da frase em grego: "apo kataboles kosmou", que significa
"desde a fundação do mundo", subdividindo os elementos do aposto, em
preposição (desde), seguido de um substantivo (fundação) e o seu complemento
(do mundo). Esta informação é verdadeira, porém, não é esta informação que
torna válida a conclusão que ele fez no final do artigo.
Não é o fato de conhecer a língua grega e a
hebraica que torna uma pessoa autoridade na interpretação das Escrituras, pois
os escribas e fariseus conheciam as duas línguas e, mesmo inseridos no contexto
cultural da época, foram inquiridos por Cristo por não entenderem a linguagem
d’Ele "Por que não entendeis a minha linguagem? Por não
poderdes ouvir a minha palavra" ( Jo
8:43 ).
Ser versado na língua grega
ou hebraica não torna ninguém mestre e nem confere autoridade para expor a
verdade do evangelho.
Embora a expressão ἀπὸ
καταβολῆς κόσμου (apo
kataboles kosmou – desde a fundação do mundo) seja comum no Novo Testamento e
ocorre exatamente como em Apocalipse 17, verso 8 em outras seis passagens
bíblicas, ela pode assumir valor distinto em função do contexto no qual ela foi
inserida ( Mt 13:35 ; Mt 25:34 ; Lc 11:50 ; Hb 4:3 ; Hb 9:26 ; Ap 13:8 ).
A expressão ἀπὸ
καταβολῆς κόσμου
indica que algo está consumado, estabelecido, desde a fundação do mundo, mas,
também pode, como em Lucas 11, verso 50, ser lida como uma realização gradual,
sucessiva, progressiva, continua “Para que desta
geração seja requerido o sangue de todos os profetas que, desde a fundação do
mundo, foi derramado” ( Lc
11:50 ). A frase é inclusiva, demonstrando que será requerido o sangue de todos
os profetas das mãos de uma geração específica: a geração má.
Vale salientar que, quando
Jesus especifica: ‘desta geração’, a primeira ideia que vem a mente do
interprete é de que Jesus estava fazendo referência ao espaço de tempo que
separa cada grau de filiação, por causa do entendimento de que cada século
compreende cerca de três gerações, porém, seria sem propósito Deus requerer o
sangue dos profetas que fora derramados pelos pais das mãos dos filhos, sendo
que o sangue dos profetas foi derramado sucessivamente desde os pais até os
dias de Cristo.
Carece verificar que,
quando Jesus diz ‘desta geração’, ele diz de uma ‘geração má’, ‘geração
perversa’, ‘geração de Adão’, que contrasta com a geração dos filhos de Deus,
com a geração dos que nasceram de novo, provenientes de uma semente
incorruptível, que é a palavra de Deus, geração de Cristo.
A fala de Jesus era para tornar evidente que os
filhos de Israel eram geração contumaz, rebelde, geração de Adão, contrastando
com a semente que foi vaticinada pelos profetas que serviria a Deus, a geração
proveniente da palavra de Deus "Uma sementeo
servirá; será declarada ao Senhor a cada geração" (
Sl 22:30 ); "Esta é a geração daqueles que buscam,
daqueles que buscam a tua face, ó Deus de Jacó. (Selá.)" (
Sl 24:6 ).
A argumentação com relação
às outras passagens bíblicas quanto ao uso da frase ἀπὸ
καταβολῆς κόσμου são
pertinentes e encera a ideia de algo concluso, porém, não é causa determinante
do significado da passagem de Apocalipse 17, verso 8.
O contraponto que o Sr. Clovis faz ao Pr. Ciro é
pertinente, quando diz: “O pastor Ciro faz a sua tese depender da preposição ‘apo’ e
não da expressão completa. Porém, a classe de palavra que tem tempo e modo é o
verbo, e é para ele que devemos nos voltar se quisermos saber quando e de que
forma algo ocorre. Devemos perguntar ao texto ‘o que [não] ocorreu antes da
fundação do mundo?’ e a resposta é ‘nomes [não] foram escritos’" Idem.
Embora a leitura do Sr. Clovis tenha por base um
dicionário de um lexicógrafo famosíssimo como o é o do Dr. Strong, não
significa que a interpretação do contexto do capítulo 17 de Apocalipse seja a
correta “O verbo ‘gegraptai’ está no tempo Perfeito e no modo
Indicativo. O modo Indicativo, nos informa o Léxico Grego de Strong ‘é uma
simples afirmação de fato. Se uma ação realmente ocorre, ocorreu ou ocorrerá,
será expressa no modo indicativo’. Já o ‘Perfeito grego corresponde ao Perfeito
na língua portuguesa, e descreve uma ação que é vista como tendo sido
completada no passado, uma vez por todas, não necessitando ser repetida’" Idem.
Mas, como ler e interpretar
Apocalipse 17, verso 8?
"A besta que viste era
e já não é, e subirá do abismo, e irá à sua destruição. Os que habitam na terra
(cujos nomes não estão escritos no livro da vida desde a fundação do mundo) se
admirarão, vendo a besta que era e já não é, mas que virá" (
Ap 17:8 ).
Para compreender Apocalipse
17 é necessário conhecer todo o livro das Revelações. O evangelista João não
escreveu o livro de Apocalipse fracionado, pois o livro foi fracionado em
capítulos e versículo muito tempo depois. Com isso quero enfatizar que o capítulo
17 deve ser interpretado dentro do contexto do livro, pois se a interpretação
for feita a partir da análise de um único verso, resultará em erros.
Ao ler o livro de
Apocalipse, verifica-se que os eventos narrados no capítulo 17 de Apocalipse,
remetem a ideia que consta em Apocalipse 13, porém, o capítulo 17 sobressai em
detalhes, nuances, sendo que o capítulo 13 é resumido, enxuto.
Outro ponto a destacar é
que o evangelista viu uma visão. Ora, uma visão trabalha com figuras que podem
ser interpretadas e descritas segundo a compreensão humana. Portanto, quando
lemos que João viu o Livro da vida, não significa que nos céus há um livro de
registro semelhante aos que há nos hotéis, ou semelhante a um livro de
contabilidade de uma empresa.
A visão de um livro com
nomes inscritos é um modo de o vidente ter acesso à ideia do que é a
onisciência de Deus, pois não há outro modo cognoscível de se fazer referencia
ao conhecimento de Deus. Se a visão fosse dada em nossos dias, possivelmente o
vidente veria um computador, e não um livro. Por meio da visão do livro o
apóstolo João demonstra que os que ficaram admirados ao ver a besta possuem um
destino diferente dos que creem no Cordeiro de Deus.
A visão do Livro da vida
foi um modo de o homem tomar conhecimento de algo que vai além da compreensão
humana, permitindo ao homem um meio de considerar a onisciência de Deus, pois
Deus não depende de livros, ou de consultar manuscritos para inteirar-se de
algo.
Se o leitor atentar para o
verso 8 de Apocalipse 13, verá que a frase ἀπὸ
καταβολῆς κόσμου
(desde a fundação do mundo) é idêntica:
"E todos os que habitam sobre a terra adorarão, esses
cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde
a fundação do mundo" ( Ap
13:8 )
"A besta que viste era e já não é, e subirá do abismo, e
irá à sua destruição. Os que habitam na terra (cujos nomes não estão escritos
no livro da vida desde a fundação do mundo) se admirarão, vendo a besta que era
e já não é, mas que virá" ( Ap
17:8 )
Sabemos também que o Cordeiro de Deus, que é
Cristo, foi conhecido antes da fundação do mundo e manifesto aos homens na
plenitude dos tempos "O
qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do
mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós"
( 1Pe 1:20 ).
Sabemos que o dia de salvação sobremodo oportuno
é ‘hoje’, de modo que a salvação do indivíduo ocorre "hoje", ou seja,
no tempo dos homens, e não na eternidade, quando o Cordeiro foi conhecido ( 1Pe
1:20 ; Hb 9:26 ; Jo 17:24 ). A exortação deve ocorrer durante o tempo que se
chama ‘hoje’ ( Hb 3:13 ), e é isto que o apóstolo Paulo fazia: “E NÓS,
cooperando também com ele, vos exortamos a que não recebais a graça de Deus em
vão (Porque diz: Ouvi-te em tempo aceitável E socorri-te no dia da
salvação; Eis aqui agora
o tempo aceitável, eis aqui agora o dia da salvação)” (
2Co 6:1 -2). Os termos ‘aqui’, ‘agora’ é o mesmo que ‘hoje’, ou seja, a
salvação não se deu ou foi determinada na eternidade, pois se assim não fosse,
não seria necessário à exortação.
O Cordeiro de Deus é uma figura que remete a
pessoa do ‘Eu Sou’ quando encarnado. Cristo, o Verbo encarnado, é preexistente,
de modo que, Ele foi anunciado de antemão (verbo: προγινώσκω – proginóskó:
pré-conhecimento, pré-ciência), porque é antes da fundação do mundo "Disse-lhes
Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão
existisse, eu sou" ( Jo
8:58 ).
Cristo foi 'pré-conhecido' não no sentido de
‘saber acerca de’, e sim no sentido de ter sido anunciado de antemão pelos
santos profetas "Em esperança da
vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos
séculos" ( Tt 1:2 ) compare com: "O qual,
na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes
da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor
de vós" ( 1Pe 1:20 ).
A ‘promessa’ que o apóstolo Paulo faz alusão a
Tito diz do ‘conhecimento’ que o apóstolo Pedro anunciou aos cristãos da
dispersão. O que foi anunciado de antemão pelos profetas acerca do Filho de
Deus, que nasceu na casa de Davi, diz da ‘promessa’, do ‘conhecimento’ de Deus
enquanto doutrina, e não da sua onisciência, que é saber plenamente bem acerca
de todas as coisas “O qual antes
prometeu pelos seus profetas nas santas escrituras, acerca de seu Filho, que
nasceu da descendência de Davi segundo a carne” (
Rm 1:2 -3).
No verso 8 de Apocalipse 13, o evangelista João
especifica que o Livro da Vida pertence ao Cordeiro “... no
livro da vida do Cordeiro que foi morto...” (
Ap 13:8 ). Ele não trata de outro livro a não ser o Livro que pertence ao
Cordeiro, Cordeiro este que foi morto desde a fundação do mundo.
Quando o mundo foi fundado
por Deus, pelos eventos que haviam de suceder (queda da humanidade e redenção),
a morte de Cristo foi estabelecida, daí a exposição de que o cordeiro foi morto
na fundação do mundo, porém, Cristo foi manifesto na plenitude dos tempos.
A construção do texto de
Apocalipse 17, verso 8 é semelhante a de Apocalipse 13, verso 8, porém, é mais
rica em detalhes. No capítulo 13 o vidente aponta a admiração dos que residem
na terra, já no capítulo 17 ele aponta a adoração destas mesmas pessoas. No
capítulo 17 fica delineado que a destruição da besta está estabelecida, porém,
apesar de prevista, a besta ainda não existia (não é), mas está para subir do
abismo e será destruída.
Como o apóstolo escreveu
anteriormente que o livro pertence ao Cordeiro de Deus e que Ele foi morto
desde a fundação do mundo ( Ap 13:8 ), ao escrever no verso 8 do capítulo 17,
ele deixou de mencionar expressamente o nome do Cordeiro de Deus, a quem o
Livro da Vida pertence.
A visão doutrinária
determinista, fatalista e mecanicista que o Sr. Clovis possui transtornou lhe a
leitura, pois é comum na escrita grega a supressão de palavras e frases quando
à lógica ou estrutura da frase permite.
Por exemplo: “ἐν τούτῳ γινώσκετε τὸ πνεῦμα τοῦ θεοῦ· πᾶν πνεῦμα ὁ ὁμολογεῖ Ἰησοῦν Χριστὸν ἐν σαρκὶ ἐληλυθότα ἐκ τοῦ θεοῦ ἐστιν, καὶ πᾶν πνεῦμα ὁ μὴ ὁμολογεῖ τὸν Ἰησοῦν ἐκ τοῦ θεοῦ οὐκ ἐστιν· καὶ τοῦτο ἐστιν τὸ τοῦ ἀντίχριστου, ὃ ἀκηκόατε ὅτι ἔρχεται, καὶ νῦν ἐν τῷ κόσμῳ ἐστὶν ἤδη - Nisto conhecereis o Espírito de Deus: Todo o espírito que
confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; E todo o espírito que não
confessa que Jesus (Cristo veio em carne – suprimido) não é de Deus;
mas este é o espírito do anticristo, do qual já ouvistes que há de vir, e eis
que já está no mundo”( 1Jo 4:2
-3).
No texto em grego o
evangelista e apóstolo João demonstra que todo aquele que confessar que Jesus
‘o Cristo veio em carne’, pertence a Deus, mas, ao fazer referência àqueles que
não professam a verdade demonstrada anteriormente, que o ‘Cristo veio em
carne’, no grego ficam suprimidos o nome ‘Cristo’ e a frase ‘veio em carne’
(Χριστὸν ἐν
σαρκὶ). A
supressão de uma frase que ocorreu em Apocalipse 13, verso 8 é uma figura de
construção por omissão (zeugma: consiste na omissão de um ou mais elementos de
uma oração, já expressos anteriormente. A zeugma é uma forma de elipse), o
mesmo tipo de supressão que ocorreu em 1João 4, verso 3.
A construção do Sr. Clovis
é descabida por não ter considerado as nuances que envolvem as figuras de
linguagem, construção e estilo que é próprio a todos os idiomas e as normas de
interpretação que a própria bíblia apresenta.
Ao dizer que só há a possibilidade de duas
interpretações de Apocalipse 17, verso 8, sendo a possibilidade que ele apoia a
de ‘interpretar a expressão como significando que os nomes de todos os salvos
estavam registrados no Livro da Vida desde a fundação do mundo’, ele
desconsidera o que Deus diz: "E,
se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará
a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão
escritas neste livro" ( Ap
22:19 ).
Se ele observasse as Escrituras, veria que
afirmar a doutrina calvinista da predestinação e eleição através da figura
apocalíptica do livro que pertence ao cordeiro é descabido, visto que outras
passagens bíblicas deixam claro que Deus altera o conteúdo do livro conforme a
resposta que o homens dá a sua palavra "MAS
o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios" (
1Tm 4:1 ).
O profeta Moises rogou a
Deus que riscasse o seu nome do Livro da Vida, ou usasse de misericórdia para
com o povo de Israel ( Ex 32:33 ), porém Deus instruiu Moisés dizendo que não
riscaria o nome de Moisés e nem favoreceria os pecadores dentre o povo, pois
Deus jamais transtornaria a sua natureza, santidade, justiça, equidade, para
satisfazer o pedido de quem quer que fosse.
Todos os homens são
pecadores, ímpios, por terem sido gerados segundo a semente corruptível de Adão
( Sl 58:3 ), o nome deles não se misturam com o daqueles que nasceram de novo (
Rm 5:18 ). Todos os homens quando abrem a madre, entram por uma porta larga
(Adão), que dá para o caminho largo que os conduzirá a perdição, o que
significa que ninguém que entra no mundo está predestinado ou foi eleito para
salvação. Todos os homens se desviam de Deus desde a madre, e falam mentira
desde que nascem, pois foram julgados e condenados em Adão, apenados com alienação
de Deus e herdaram um coração mentiroso segundo o coração de Adão ( Rm 3:4 ).
Daí a acusação do apóstolo
Paulo de que todos os homens são mentirosos, pois a boca dos homens fala
segundo o coração que herdaram de Adão. Somente quando o homem nasce de novo é
que há alegria nos céus por um pecador que se arrepende ( Ap 20:12 ).
Mas, com relação aos
descrentes, a leitura correta da bíblia é que todos morreram porque pecaram, e
pecaram porque um só pecou, portanto, são gerados e concebidos em pecado, iniquidade,
sendo certo que ninguém nasce predestinado à salvação.
Que Deus te Abençoe!!!
Um Forte Abraço
Até uma próxima oportunidade !!!
Pastor e Teólogo
Arlei Terra