O futebol, esporte com o qual o brasileiro mais se identifica, seria um “antro de idolatria”, levando as pessoas a se afastarem de Deus. Essa é a opinião do pastor Maurício Cerqueira, que mantém um blog com opiniões contrárias ao esporte.
Cerqueira não está sozinho. Existem outros sites dedicados a “denunciar” os perigos do apreço pelo esporte que, a cada ano, conquista cada vez mais fãs ao redor do mundo.
“Deus abomina o futebol e seus adoradores… fãs… torcedores… fanatismo… todos no caminho do inferno”, diz o pastor Maurício Cerqueira. Na mesma linha de pensamento, a Igreja da Fé Apostólica prega que “o futebol é incompatível com a santidade requerida pelo Altíssimo ao Seu povo”. Outro que se dedica a acusar o futebol de ser uma ferramenta demoníaca é o site O Correio de Deus: “Nós sempre falamos contra o futebol e mostramos a sua verdadeira face”.
Entrevistado pela reportagem do portal Uol, o pastor Cerqueira afirma que seus artigos não refletem sua opinião, mas sim, uma mensagem divina de alerta aos fiéis: “Eu não dou opinião. Aprendi isso. Opinião é presunção. O que eu faço é interpretar passagens bíblicas. E eu entendo tudo da Bíblia. Eu mastigo a Bíblia. O senhor fala pela minha boca”, disse.
Cerqueira destaca que não apenas torcedores e jogadores estariam no caminho do erro: “Quantos ´pastores` amantes do futebol… Quantos que se diziam crentes e já ardem no inferno sem ter mais como se arrepender… Jogador, ídolo do mundo… Adorado, idolatrado e ao mesmo tempo odiado por rivais, feiticeiros de mente e bruxos que são a totalidade dos torcedores e fanáticos”, lista o pastor.
Segundo ele, Deus estaria interessado em “destruir o Maracanã”, e questiona: “Será que será em dia de jogo?”. O religioso, que se descreve como alguém “ sem igreja e rejeitado por todos”, diz que “pastor que gosta de futebol não é um homem de Deus”, e acrescenta: “São esses mesmos pastores que pedem palmas em suas pregações. Deus abomina palmas”.
Para O Correio de Deus, “o futebol é uma verdadeira máquina de ganhar dinheiro, e muitos ainda não entendem o que este ‘jogo` significa. Tudo é comprado, tudo é manipulado, tudo é traçado para que o público fique a cada dia mais fanático por esse esporte”, diz uma das matérias do site, que é mantido por um grupo de colaboradores e editores.
O professor de antropologia teológica da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Alex Villas Boas diz que “o esporte não tem nada a ver com destruir os adversários. Essa é uma leitura equivocada. O esporte tem a ver com saúde, com o desenvolvimento da medicina e, portanto, com a vida. Por isso, a princípio não faria sentido uma religião ser contra o esporte”.
Sobre as interpretações da Bíblia que levam a esses posicionamentos, Villas Boas destaca que “um texto fora de contexto vira pretexto” para pregações equivocadas: “E, nisso, o repertório cultural de quem o lê faz diferença. Dependendo da sua formação e visão do mundo, você já vai lê-lo predisposto a interpretá-lo de uma determinada maneira”, conclui.
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