“Estando Josué ao pé de Jericó, levantou os olhos e olhou; eis que se achava de pé diante dele um homem que trazia na mão uma espada nua; chegou-se Josué a ele e disse-lhe: És dos nossos ou dos nossos adversários? Respondeu ele: Não; sou príncipe do exército do Senhor e acabo de chegar” (Josué 5.13 e 14).
Cruz-02Cheguei há poucos dias da Palestina, que apesar de ser uma região historicamente identificada está formada por diversos territórios autônomos; porém, ligados entre si politicamente, situados dentro do atual estado de Israel, no Oriente Médio.
O objetivo da jornada foi a realização de dois congressos com a igreja palestina de fala árabe. Um em Nazaré, cidade de convívio misto e pacífico entre judeus, palestinos, católicos e protestantes; e o outro em Belém, esta sim, cidade com forte influência das facções políticas Hamas e Fatah, que governam a autonomia palestina nas diferentes cidades, que hoje estão separadas por muros impedindo que a população transite livremente.
Depois de um tempo com os palestinos, incluindo a igreja e com um pouco de conhecimento da complexa cena política, é fácil para um estrangeiro, cristão e brasileiro, mesmo sendo jornalista, como eu, condoer-se pela causa desses desvalidos que lutam por sua independência, sofrendo os desmandos e variações das políticas vigentes. É fácil ver esta população de 4.2 milhões de habitantes crescendo sem emprego e perspectiva, o que facilita seu envolvimento com grupos reacionários, que chegam a extremismos radicais e ao terror, impedindo qualquer negociação de paz democrática.
Por outro lado, por muitos anos tenho convivido também com os judeus, habitantes de Israel, cujo contingente populacional é de um pouco mais de 6 milhões de habitantes, que construíram com sangue e bravura sua história marcada por atentados, morte e todo tipo de atrocidades causadas por palestinos e seus aliados árabes, os quais têm o objetivo claro de riscar do mapa o estado Sionista, devolvendo às famílias palestinas as propriedades perdidas a partir de 1948, quando foi criado o atual estado de Israel.
Contudo, na história de convívio entre as duas etnias se vê intransigências mútuas, assim como atos de barbárie e massacres de inocentes protagonizados por ambos, o que dificulta toda e qualquer tentativa de uma paz duradoura na região. Os mártires atuais são bi laterais, assim como o sangue na terra e a radicalização de posições.
Por isso, acredito que a comunidade cristã internacional deve ser persuadida a não tomar partido. Nos dois lados a cristandade é vista com desconfiança e é até mesmo perseguida. Para os Judeus, o cristianismo não passa de uma seita ilegítima, que gera por meio do turismo aproximadamente 13% do PIB.
Internamente, o governo de Israel tem sistematicamente criado leis que limitam a fé e influência cristã no país, como foi a lei contra o evangelismo e missionários, aprovada pelo Knesset – parlamento judeu – no dia de Natal de 1977.
Por outro lado, no meio da igreja palestina árabe em Israel e nos territórios da autonomia, existe uma igreja formada por gente comprometida com Cristo, assim como também no meio dos Judeus. As comunidades messiânicas se fazem presentes com quase 5 mil irmãos que amam a paz. Mesmo que as distâncias econômicas, étnicas e sociais sejam imensas entre os dois grupos, existem pontos de proximidade e convergência, e a sonhada paz é uma delas. Diversos irmãos constroem, sistematicamente, pontes entre os dois lados e trabalham de forma incessante pelo convívio mútuo na região. A maioria da população de ambas as partes, na pequena nação, sonha com essa paz. Creio que esta deve ser nossa posição.
A Igreja, assim como o Príncipe Celeste visto por Josué no texto acima, não tem lado. Somos do Senhor e quando pisamos em uma terra, estamos lá para implantar o que vem de Deus, o que vem do alto. Não consigo ver o plano de Deus, dentro da visão da graça, tomando partido em questões políticas, mesmo em Israel. Nossa visão tem que ser aquela que implanta a justiça e alcança de modo igual todas as famílias da terra que estão debaixo da bênção de Abraão e depois debaixo da graça de Cristo. Josué queria saber de que lado estava o anjo, mas este depois de lhe dar um sonoro não declarou que vinha da parte de Deus para implantar na terra o que Deus queria.
Para nós, Igreja, o que Deus quer é que todos os homens e mulheres tanto judeus quanto palestinos, sejam salvos. Não nos enganemos, pois, diante tanto do islamismo palestino quanto do judaísmo israelense, nós cristãos somos indesejados e passíveis de perseguição e retaliação se quisermos viver intensamente e de forma piedosa à nossa fé. A comunidade cristã, em geral, toma o lado de Israel. Recentemente, uma igreja no Texas doou um tanque de guerra para ajudar o estado judeu a lutar  contra seus inimigos. Outras atitudes, não tão estúpidas, mas igualmente radicais, têm sido tomadas a favor dos palestinos, mostrando a tendência humana a ser desse ou daquele lado. Se estivermos com os nossos grupos e caravanas enaltecendo um ou outro lado, estaremos de alguma forma fora do que Deus quer. Nem todo palestino é terrorista e nem todo judeu é opressor. Em ambos os lados a igreja é presente e precisa de nossa oração, apoio e amor. Em ambos os lados a miséria humana é encontrada, precisando urgente na graça redentora de Jesus, de quem somos arautos.
De que lado eu estou? Posso orar pela paz em Jerusalém assim como oro pela paz em Gaza, pois sou do Senhor Jesus!